Peixotinho



Allan Kardec, o veiculador da maior obra de ciências psíquicas dos tempos modernos, sempre defendeu que a prática da mediunidade deveria ser gratuita e desinteressada.
Nada mais justo, tendo em conta que as mensagens e as ações advindas da mediunidade são devidas ao trabalho dos espíritos. Os médiuns mais não são do que intermediários, transmissores, instrumentos.

Ocorre que o pouco conhecimento acerca do Espiritismo e de como deve ser a prática saudável, adequada da mediunidade, podem levar a equívocos, bem como trazer prejuízos.
As tentações de possuir também trabalham para que o indivíduo ceda a ofertas indevidas.

Exemplos a serem seguidos porém, existem. Francisco Peixoto Lins é um deles.

Há alguns anos, visitávamos instituições espíritas em Recife com o objetivo de divulgar a campanha do quilo em favor de orfanatos e abrigos de idosos. Essas visitas estavam inseridas no movimento espírita; relacionávamo-nos muito bem com os dirigentes de instituições, a tal ponto que se chegássemos a uma reunião espírita sem aviso prévio, muitas vezes, os palestrantes cediam suas vez de falar e assumíamos o lugar de comentador do Espiritismo.

Nesse ambiente de abertura e receptividade, visitamos a Fraternidade Espírita Peixotinho, instituição recém fundada pelo competente Humberto de Vasconcelos, genro do Peixotinho. Ao chegarmos sem aviso prévio, fomos procurados pelo Dr. Humberto que apresentou mil desculpas pelo fato de a palestrante da noite não poder ceder seu lugar a mim, por que era uma pessoa que residia no Rio de Janeiro e estaria de volta à sua terra no dia seguinte. Eu disse a ele que compreendia muito bem a situação e que eu também comparecia a reuniões espíritas para ouvir, e isso para mim, representava excelente oportunidade de aprendizagem.

A expositora, era nada menos do que a filha mais nova do médium Peixotinho. Hoje, passados mais de vinte anos não lembro com precisão o nome dela: Sheila ou Laís.

Ouvi uma proveitosa palestra; rápida recapitulação sobre diversas modalidades de mediunidade, com base em O Livro dos Médiuns.

Além da recapitulação muito oportuna, a palestrante contou-nos a respeito da vida simples que sua numerosa família levava com o salário reduzido do Peixotinho.
Na verdade, os recursos eram suficientes apenas para atendimento das necessidades básicas; vida digna, porém simples. Nada de luxo ou supérfluos.
Havia, contudo, espaço para alguns sonhos. A família não possuía automóvel, nem mesmo um carro usado simples. Planejaram adquirir um fusca, usado; para isso, começaram a fazer economias e depositá-las em uma caderneta de poupança.

Acontece porém, que as necessidades não permitiam que as economias demorassem muito na conta bancária. Vez por outra, tinham que retirar todo o dinheiro para atender a um imprevisto, a uma necessidade imperiosa. De modo que nunca possuíram um automóvel.

Durante sua vida, Peixotinho residiu em duas localidades do Brasil: Rio de Janeiro e Ceará.

Apesar de sua vida simples, o médium de efeitos físicos e de cura jamais intentou obter qualquer ganho com a prática da mediunidade.

Certa feita, após ser intermediário de trabalhos de curas promovidos pelos espíritos, Peixotinho foi procurado por um cidadão bem posicionado na sociedade, dono de rendas expressivas. Sua filha havia sido curada graças a mediunidade de que era portador, alguns dias antes.

O cavalheiro convidou Peixotinho para visitá-lo em sua residência. Ao chegar a uma larga e confortável habitação, Peixotinho foi conduzido à garagem. Observou alguns automóveis estacionados. O anfitrião apresentou a Peixotinho um fusca zero quilômetro. Entregou-lhe as chaves e disse que era um presente. O médium respondeu que não poderia aceitar a gentileza da oferta; a mediunidade é um dom de Deus e não pode ser paga com bens materiais. Ao que o senhor respondeu: mas eu sou um homem muito rico, faço essa oferta para você a título de amizade e não de pagamento, esse carro para mim é tão barato quanto uma bala, um bombom ou um confeito para você.

Peixotinho fitou o cidadão e redarguiu: o senhor deseja que sua filha seja a última beneficiada pelos dons de cura de que estou investido? Não posso aceitar; se o fizesse, minha mediunidade certamente seria retirada e os benefícios que eu prometi a Deus levar para os necessitados seriam suspensos.

Obrigado e até logo.

Peixotinho é conhecido como poderoso médium de materializações. Promovia curas graças a peculiaridade de emitir grande quantidade de ectoplasma que era utilizado pelos espíritos para supressão de enfermidades. Uma curiosidade que foi observada pelos familiares do Peixotinho foi que, ao logo dos anos, sua estatura foi reduzindo, foi ficando um pouco mais baixo e ao mesmo tempo o número de seu sapato diminuiu.
Esse fenômeno foi atribuído pela palestrante a doação de ectoplasma ao logo da vida.

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