EVOLUÇÃO DAS CIÊNCIAS MEDIÚNICAS E PARANORMAIS Na primeira metade do século XX.



Poderíamos definir o Espiritismo como ciência?

Há pessoas que consideram ciência à disciplina experimental que lida com fatos verificáveis e  que possam ser repetidas à vontade. Que sob as mesmas condições de experimentação produzem os mesmos resultados. Outros, mais raros, exigem que as ciências sejam baseadas ou, pelo menos, confirmadas por métodos numéricos, matemáticos.

Tais conceitos são bastante restritivos e, se fóssemos adotá-los como parâmetros para definir ciência, várias matérias que hoje são consideradas ciência não o seriam mais, como vamos ver no curso dessa dissertação.

O Espiritismo codificado por Allan Kardec foi definido como ciência. O objeto de seu estudo é o espírito e seus meios de comunicação com o mundo corporal.

O Espiritismo possui características de ciência de observação e de experimentação. De modo mais abrangente, pode-se enfocar a ciência espírita também como ciência do ser e ciência do dever ser.

Como ciência do ser e de observação, o Espiritismo privilegia os fenômenos atribuídos à atuação dos espíritos dos vivos e dos mortos que ocorrem em momentos, lugares e de formas imprevisíveis, sem iniciativa de quem quer que seja. São fenômenos ditos espontâneos por Allan Kardec.

Existem vários fenômenos dessa classe, em todos os tempos e países. Um dos exemplos frisantes é o que ocorreu a partir de março de 1848 em Hydesville - estado de N.Y, com as irmãs Fox.

Em seu aspecto experimental, o Espiritismo oferece as condições de realização do fenômeno. Em geral, não é o ser vivo que provoca o fenômeno, mas sim, via de regra, uma entidade que animou o corpo de um ser humano e encontra-se desencarnado.

Nessa abordagem, foram realizadas inúmeras pesquisas por homens de notória competência a exemplo do Sir William Crookes, Cesar Lombroso, Karl Friederich von Zollner, Fechner, Charles Richet, Pierre Janet, Alfred Russel Wallace, Coronel de Rochas, Gabriel Dellane, Camille Flammarion, Ernesto Bozzano, Victor Hugo, Conan Doyle, etc.

O grande cientista, ganhador do prêmio Nobel de medicina de 1913, Charles Richet, realizou um trabalho de sistematização dessa “nova ciência” a que denominou Metapsíquica. Em seu trabalho Tratado de Metapsíquica, Richet declara que a tônica dessa ciência é o fato; o fato metapsíquico bem observado e bem documentado. Se, para nós, contra fatos não há argumentos, para Richet, também contra fato não há argumento. Ainda que esse fato fosse de difícil, ou mesmo de dificílima reprodução, tratado adequadamente, possui pleno valor científico.

As investigações efetuadas nessa fase do desenvolvimento das ciências psíquicas, eram voltadas para fenômenos portentosos, exuberantes. Pouco se tratava de fatos simples como telepatia, por exemplo; há, entretanto, muitos registros de mediunidade poliglota, de ectoplasmias, de materializações; existem relatos de transporte (de fatos que, em princípio, poderiam ser explicados pela interpenetração da matéria), etc. Para obtenção de tais fenômenos, é indispensável o concurso de indivíduos portadores de faculdades raras. Em suma, o elenco de fatos mostrava-se com características variadas, notoriamente imprevisíveis, dificilmente controláveis e antiestatísticas.

Nesse paradigma de pesquisas, encontrava-se também a Psicologia. Essa ciência que vivia o período, digamos, pré-freudiano, também andava às voltas com métodos que não permitiam a repetição fácil, ou mesmo não permitiam repetição nenhuma. Breuer, Pierre Janet, Charcot, e outros adotavam, para investigações e terapias psicológicas, métodos hipnóticos e de regressão de memória. Tratamentos esses que não são reproduzíveis em todos os indivíduos – nem todas as pessoas são hipnotízáveis.

Há indícios de que, no início do século XX, os cientistas passaram a entender que a ciência deveria focar os fatos que possam ser repetidamente provocados e que, se o forem nas mesmas condições, apresentarão os mesmos resultados.
Foi no sentido de reforçar essa tendência que Sigmund Freud passou a adotar a Psicanálise, caracterizada pelo abandono dos métodos hipnóticos e consequente manutenção da fronteira consciente/inconsciente.

Freud com a palavra: “ Quando eu, (…) prosseguia sozinho as pesquisas iniciadas por Breuer, fui levado a outro ponto de vista a respeito da dissociação histérica (a divisão da consciência). Era fatal essa divergência, aliás decisiva para o resultado futuro, visto que eu não partia, como Janet, de experiências de laboratório e sim do trabalho terapêutico.

O que sobretudo me impelia era a necessidade prática. O procedimento catártico, como Breuer o praticava, exigia previamente a hipnose profunda do doente, pois só no estado hipnótico é que tinha este o conhecimento das ligações patogênicas que em condições normais lhe escapavam. Tornou-se me logo enfadonho o hipnotismo, como recursos incerto e algo místico; e quando verifiquei que apesar de todos os esforços não conseguia hipnotizar senão parte de meus doentes, decidi abondoná-lo, tornando o procedimento catártico independente dele.” - FREUD, Sigmund - Cinco lições de Psicanálise – Segunda Lição.-tradução de Durval Marcondes – Abril Cultural, 1978.

Embora possamos entender que os paradigmas da nova técnica terapêutica tenham agregado inovações visívemente benéficas nesse campo, não havia nem há razão para abandonar as terapias de hipnose e regressão da memória (1). Na evolução da Psicologia, com o agigantamento da figura de Freud, essa atitude reacionária migrou do campo terapêutico e estendeu-se indevidamente ao campo epistemológico. Em outras palavras, passou-se a considerar que todas as experimentações que não fossem obtidas com a generalidade dos indivíduos, nem repetidos à vontade não poderiam ser consideradas práticas científicas.

E o hipnotismo foi marginalizado nos meios científicos e com ele todo o conjunto dos trabalhos dos notáveis metapsiquistas, que citamos linhas atrás. Nessa atitude, reside, porém, grave erro. Nem todos os fatos obtidos exclusivamente de certos indivíduos ou de situações específicas dificilmente obteníveis, devem ser colocados à margem da pesquisa científica.

Restrões dessa espécie nem sempre podem ser atendidas e nem todas as ciências apresentam fatos cujo controle seja simples.
A observação e registro de um fenômeno mediúnico e paranormal, em regra, não é fácil, pois que exige muita paciência, atenção e persistência. Semelhantemente aos requisitos de certas investigações no campo da Biologia em que os pesquisadores consomem dias, meses e até anos para observar e registrar um simples fato (a exemplo de reprodução, alimentação, ou outro comportamento típico de tal ou qual espécie). Alguns estudiosos da Biologia, passam até a residir no habitat do ser que se deseja estudar.

Observa-se também que, no início do século XX, procurou-se estender ao maior número de áreas de pesquisa, um aparato matemático e estatístico que conferisse à ciência maior rigor.

A Ciência espírita, entretanto, não estacionou. No que fosse razoável, restringiu seus estudos a fenômenos, “mais simples”, cuja ocorrência foi verificada em maior ou menor grau na generalidade dos seres humanos. Trata-se da telepatia, clarividência e precognição, ou os assim chamados, fenômenos ESP (Extra Sensorial Perceptions - percepções extrassensoriais). Além desse conjunto de fenômenos, observou-se a existência de outros fatos que indicavam a ação da mente sobre a matéria - classificados como Psicocinesia.

Em 1930 Joseph BanksRhine foi nomeado diretor responsável pelo Laboratório de Parapsicologia da Universidade de Duke – Columbia. Rhine, criou a pesquisa parapsicológica, com a utilização de cinco conjuntos de cartas de cinco naipes, a que denominou “Cartas Zenner”. Para o estudo dos ESP. Relativamente ao estudo da psicocinesia, Rhine utilizou dois dados. O paciente mentalizava um valor desejado correspondente à soma dos valores apresentados pelos dados.

Aplicando grande quantidade de experiências, pode, por meio de técnicas estatísticas, comprovar a existência de percepções que ultrapassam a fronteira dos cinco sentidos conhecidos e da atuação da mente sobre a matéria.

O Professor Valter da Rosa Borges em seu Manual de Parapsicologia informa que Rhine realizou algo em torno de 80.000 experimentos entre 1927 e 1934, antes da publicação em 1934 do seu livro Percepção Extrassensorial.

Além da Metapsíquica e da Parapsicologia, a ciência espírita, em meios acadêmicos, também revestiu as formas de Psicotrônica, de investigações das percepções de pacientes que experimentaram a quase-morte (Elizabeth Kubler Ross e Raymond Mody Jr.), as terapias de regressão de memória (Brian Weiss), etc.
O que se observa do conjunto dessa evolução é que as exuberantes contribuições da Metapsíquica não sofreram qualquer abalo com a utilização de métodos numéricos, nem tão pouco as da Parapsicologia devem ser desprezadas no âmbito mais abrangente da ciência espírita.

O Espiritismo sofreu a prova de mudanças de paradigmas nas ciências e saiu triunfante. Os métodos matemáticos foram, por assim dizer, impostos, a Parapsicologia foi enviada por Jesus, na pessoa de Rhine e os fenômemos espíritas e mediúnicos permaneceram sendo estudados nas academias.

Some-se a isso que a realidade do fato mediúnico foi mais uma vez e por diferentes métodos comprovado. A intervenção dos seres incorpóreos, dos impropriamente ditos mortos, também foi mostrada por diversos investigadores e renome. A investigação qualitativva da Metapsíquica bem como as quantitativas como as da Parapsicologia e por meio de todas as demais pesquisas, o trabalho de Allan Kardec recebe contínuas confirmações.


(1) – Ver meu artigo sobre Regressão de Memória - neste blog.

Postagens mais visitadas deste blog

Regressão de Memória - terapia em reuniões mediúnicas

UMA REENCARNAÇÃO DE DIVALDO FRANCO NA FRANÇA

Epistemologia do Espiritismo