Mediunidade gratuita

É muito conhecida a recomendação de Allan Kardec de praticar-se a mediunidade gratuitamente, sem quaisquer tipos de interesses. A mediunidade precisa ser exercida como um ato de amor, como coisa sagrada e não como meio de explorar as pessoas.

Utilizar para interesses pessoais para promoção pessoal ou para expansão do sentimento de vaidade é algo não somente errado mas perigoso e que pode trazer consequências muito dolorosas para aqueles que se deixam levar por erros dessa espécie.

Na segunda parte de O Livro dos Médiuns item 189 lemos:

“Médiuns noturnos: os que só na obscuridade obtêm certos efeitos físicos. É a seguinte a resposta que nos deu um Espírito à pergunta que fizemos sobre se se podem considerar esses médiuns como constituindo uma variedade:

“Certamente se pode fazer disso uma especialidade, mas esse fenômeno é devido mais às condições ambientes do que à natureza do médium, ou dos Espíritos. (...). E, cumpre dizê-lo, graças a essa condição, que oferece plena liberdade ao emprego dos truques da ventriloquia e dos tubos acústicos, é que os charlatães hão abusado muito da credulidade, fazendo-se passar por médiuns, a fim de ganharem dinheiro. Mas, que importa? Os trampolineiros de gabinete, como os da praça pública, serão cruelmente desmascarados e os Espíritos lhes provarão que andam mal, imiscuindo-se na obra deles. Repito: alguns charlatães receberão, de modo bastante rude, o castigo que os desgostará do ofício de falsos médiuns. Aliás, tudo isso pouco durará.” — ERASTO.” (Grifei)

Ao ler estas passagens de O Livro dos Médiuns provavelmente teremos uma impressão de que Erasto se pronuncia de modo excessivamente rigoroso em relação aos médiuns interesseiros e aqueles que utilizam as faculdades mediúnicas para auferirem vantagens materiais.

Com o avanço dos estudos espíritas, observamos relatos que nos vêm comprovar a justeza dos alertas contidos na codificação kardequiana por meio de fatos patentes.

A respeito desse assunto, o Dr Jaider Rodrigues de Paula no seu livro “Saúde Mental”, publicado pela Associação Médico-Espírita de Minas Gerais, relata  um caso de uma de suas pacientes psiquiátricas.

Inicia o capítulo 38 descrevendo uma sala em que costumava realizar reunião com os internos do Hospital Espírita André Luiz em Belo Horizonte.

Diz-nos ele:

“(...) Essa sala tinha uma parede de vidro canelado e duas abas de correr como porta.

Havia acostumado, após a reunião (reunião costumeira com os internos), a me despedir dos pacientes fechar, as portas e aproveitar para fazer anotações nos prontuários sobre a participação de cada um. Certo dia vi uma figura parada em frente à porta da sala aguardando ser atendida. Ao abrir as duas abas da porta tive que ficar muito firme pois deparei-me com uma mulher alta com rosto deformado por extensa queimadura, cabelos longos já com mechas brancas, morena, ligeiramente obesa, que mesmo deformada transparecia ter sido bonita anteriormente ao acidente. Parecia uma espanhola ou cigana e tinha uns 50 anos aproximadamente. Tentei disfarçar o susto tomado, ela humildemente perguntou se poderia falar comigo. Pedi que ela entrasse, fechei a porta e ela assentando-se, começou a falar: “Doutor eu sou paciente do Doutor fulano e ele mandou que eu o procurasse porque estou muito precisada de orientação”.

Começou a narrar a sua história: “Sou casada e tenho um casal de filhos. Há poucos anos, comecei a observar que quando as pessoas vinham queixar alguma coisa para mim, eu já sabia do que se tratava e tinha na cabeça a resposta para o problema. Eu dizia o que pensava a elas e que se elas fizessem o que eu falava daria certo. Passei a ouvir uma voz que me dizia do que se tratava no momento em que as pessoas começaram a falar. O volume dos consulentes começou a aumentar e minha família ficou muito incomodada porque a campainha não parava de tocar. Isso estava me prejudicando. Meu marido me deu a ideia de cobrar pelos atendimentos. Disse que faria para mim um quarto fora de casa, no terreiro, de modo a não incomoda-los e que eu cobrasse uma taxa dos clientes. Assim passei a fazer. O número de pessoas aumentou muito e eu comecei a ganhar bastante dinheiro. Isso agradou muito à família, pois reformamos a casa e todos passamos a usufruir dos meus dons. Tudo ia muito bem até que um dia as vozes pararam de me orientar. Não querendo perder aquele manancial de ganho, passei eu mesma a orientar os consulentes, enganando-os da maneira que eu podia. Tempos depois as vozes voltaram, mas daquela vez com ameaças e palavras de baixo calão, me atormentando até nas horas das consultas. Criticavam as minhas orientações e aumentavam as ameaças. Um dia me atormentaram tanto que me fizeram colocar uma panela de água no fogo e me forçaram, depois de a água ferver, a joga-la em meu rosto, daí essa queimadura horrorosa que tenho. Já fiz várias cirurgias corretivas, mas parece que vou ficar assim mesmo. Sofri muito, mas as vozes não pararam de me atormentar. Certo dia, disseram-me que minha filha também era devedora deles e que tinham que justiçá-la. Falaram que eu iria enfiar uma tesoura em seu coração e que eles me obrigariam a fazer isso. Diante dessa ameaça, me apavorei e busquei me internar para evitar o pior. Aqui eu não fui atormentada por eles. Agora que o doutor disse que preparava minha alta estou morrendo de medo de tudo recomeçar por isso estou aqui pedindo orientação ao Senhor”.

Disse a ela que nenhum de nós estamos desamparados da bondade Divina, e que assim como ela usou a sua mediunidade para ganhos pessoais, poderia se preparar para auxiliar os necessitados com as suas possibilidades. Indiquei uma casa espírita bem orientada onde ela deveria buscar amparo, e disse que juntamente com a família, se possível, buscasse a oração em conjunto. Era imprescindível o culto no lar várias vezes por semana, ainda que por breve os minutos. Disse também que ela deveria vincular-se a um trabalho voluntário em favor de alguém e preparar-se através do estudo da mediunidade para melhor sintonizar-se com seu mentor espiritual. Orientei que era buscasse em Deus a solução dos seus problemas, pois Ele não nega oportunidade a seus filhos arrependidos. Ela saiu confortada e não mais a vi no hospital. Penso que se houvesse uma recaída ela teria voltado pois dissera ter se sentido muito bem e amparada naquela instituição.

O uso da mediunidade de maneira pouco recomendável pode tornar-se um sério problema para quem assim age. Essa faculdade necessita ser conhecida e aprimorada no seu uso para proporcionar frutos salutares. Comunicar-se com os espíritos de maneira ostensiva não fala, por si só, da grandeza do fenômeno. Essa possibilidade de captar as variadas vibrações que nos rodeiam justifica-se em nossas vidas quando nos faculta brilhar a nossa própria luz na busca do bem eterno que é Deus. Assim, a mediunidade necessita ser sustentada na ética do Evangelho para se tornar um bem para todos”

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