O Espiritismo e os fenômenos de cura

Ultimamente tem aparecido no Brasil, no seio do movimento espírita, instituições que se dedicam à cura do corpo físico.

Sempre existiram referências a curas de enfermidades no movimento espírita. Lembro-me que desde criança ouço relatos de curas de doenças complexas como câncer por exemplo com receituário homeopático prescrito pelos espiritos, em reuniões mediúnicas. Lembro inclusive de um caso de pessoa muito próxima a mim, que era portadora de uma patologia um tanto quanto estranha; tratava-se de uma alergia: quando essa pessoa entrava em contato com alguns alimentos vermelhos, como melancia, apareciam sinais de alergia na pele. Esses sinais de alergia eram observados também quando a pessoa entrava em contato com objetos vermelhos - roupas vermelhas, por exemplo.

Apareciam sinais de pruridos ainda com a simples visualização de alguns objetos; ao observar um caminhão carregado de melancias surgiam marcas na pele.

Os médicos consultados não resolveram o problema, que estava se tornando muito incômodo e preocupante. Entretanto a pessoa só obteve a cura com medicamentos homeopáticos prescritos pelos espíritos. Observamos que após a intervenção mediúnica o problema desapareceu por completo e, pelo que temos notícia, após cinco décadas não mais apareceram.

É bem verdade que nem sempre podemos constatar  pessoalmente e de forma cabal curas desta espécie. Mas, admitimos a possibilidade de recursos mentais, espirituais que podem aliviar e até curar; admitimos também a existência de emanações de uma espécie de energia biológica que se tratada adequadamente podem determinar restabelecimentos da saúde física. Isto por duas razões: pelos testemunhos reiterados de muitas pessoas honestas e por termos experimentado em nós mesmos, alívio considerável de dores e de enfermidades com recursos advindos do passe, da oração e do trabalho em favor do próximo.

Fato curioso foi um amigo, que evidentemente não conhecia o Espiritismo e suas finalidades, ter afirmado para mim quando eu ainda estava na adolescência: “descobri o objetivo do Espiritismo: curar.”

Embora fosse jovem ainda, percebi de imediato que o rapaz enxergava o Espiritismo ou melhor dizendo o movimento espírita, em seu aspecto externo apenas. Desde aquela época, eu já conseguia entender que o objetivo do Espiritismo era transmitir uma filosofia espiritualista fundamentada em fatos constatados e na razão, bem como que essa magnífica filosofia tem como objetivo a melhoria moral e comportamental da humanidade.

Já compreendíamos que a cura mediúnica, ou mesmo a cura médica beneficiam o envoltório corporal, mas para erradicar as causas das patologias com que nos vemos a braços é necessário atuar sobre o próprio espírito, expurgá-lo do mal, purificando-o, educando-o, tornando-o mais humilde e caridoso. A cura física qualquer que seja o médico encarnado ou desencarnado é sempre acessória; o benefício principal está na cura espiritual.

Vale observar contudo que uma coisa é algo ser acessório, outra coisa é ser inadequado e incompatível com o objetivo principal.

O fenômeno de cura existe sim no movimento espírita, como existe em qualquer outro movimento religioso, filosófico, esotérico que se dedique à prece e à mentalização do bem da cura e do equilíbrio da mente e do corpo.

Este fenômeno, como todos os outros fenômenos de ordem paranormal é de interesse do Espiritismo, mas possui uma característica: ausência de possibilidade de controle de nossa parte e da parte do experimentador. É assim que não entendemos como legítima a postura de algumas instituições de prometerem cura. A promessa de cura ou o cultivo de perspectiva nesse sentido pode beirar à mistificação.

Essa postura é sem dúvida comprometedora e pode prejudicar a expansão dos legítimos princípios do Espiritismo.

Tal risco, entretanto, tem provocado em algumas pessoas uma reação radical contra a existência de fluidoterapia e de instituições espíritas cujas atividades mais frequentadas são as sessões de cura.

Tais pessoas são contrárias à prática de curas em Centros Espíritas. Podemos raciocinar, contudo, que se Jesus curou corpos físicos, há uma propósito útil e até sublime para isso. Há os que atribuem à pratica de curas os desvios de finalidade que se observa em algumas casas espírtas. Ouvi de um amigo espírita, hoje no mundo espiritual, uma afirmação semelhante e também estranha: "a mediunidade é o calcanhar de aquiles do movimento espírita". Esse pensamento dificultou a instalação de trabalhos de mediunidade na instituição por ele dirigida.

De nossa parte entendemos que se há curas de fato, estas não deverão ser interrompidas, pois que aliviam os sofredores e aliviar os que sofrem é um dever. A prática do bem conta sempre com o apoio dos bons espíritos. O que não é razoável é eliminar das casas espíritas o estudo do Espiritismo, o estudo das obras fundamentais. En passant dizemos que há aquelas que não curam, mas deixam de estudar a Codificação de Allan Kardec. O problema é esse; não é curar o corpo ou deixar de curá-lo é negligenciar o estudo, a melhoria moral e a prática do bem.

No bojo das posições um tanto radicais há também aqueles que desprezam o estudo de um ou mais aspectos do Espiritismo: uns negligenciam a parte moral e evangélica, outros desprezam a parte científica. Ora se estudar a obra kardeciana é um dever, se cumprimos esse dever sempre, podemos observar que nenhum ponto filosófico, experimental e moral foi considerado sem importância e indigno da atenção do codificador.

Se observamos que existe uma tendência forte no movimento de desprezar-se o Evangelho, vamos aportar o Espiritismo em suas características científicas, filosóficas e religiosas, dando um pouco mais de ênfase na parte religiosa. Se as pessoas estiverem desprezando a parte científica e filosófica e migrando por caminhos de crenças cegas, se estão desprezando a racionalidade e aderindo a superstições, se as pessoas estiverem atacando as conclusões dos cientistas sem alicerce para tal, vamos continuar ofertando estudos e práticas morais do Evangelho, mas vamos dar mais ênfase na parte Filosófica, racional e Científica, até que observemos mais equilíbrio nesse tripé (ciência, filosofia e religiâo)

Nossa sugestão às instituições deve ser sempre o Espiritismo completo, Moral, Religioso, Científico, com estudo teórico e experimental dos fatos, Filosófico, racional e progressivo.
Há espaço para quem se dedica com ênfase a qualquer dessas partes, mas a obrigação de todos é a de estudar, refletir em torno da obra Kardeciana que é abrangente. Dessa forma, não perderemos de vista a compreensão completa do Espiritismo.

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