A predestinação segundo o Espiritismo
Há quem possa atribuir naturezas diferentes para espíritos e almas.
Costuma-se dizer corriqueiramente: a alma de tal pessoa falecida
apareceu; usa-se a expressão “alma penada”, significando que se
trata da parte imortal do ser falecido. Diz-se também: apareceu um
espírito, um fantasma, significando que um ser de outra dimensão,
assustador, criado por Deus separadamente da humanidade, um ser
fantástico e que não teria nada a ver com a realidade natural e
portando não participaria da constituição nem do destino dos seres
humanos.
Em Espiritismo entretanto, denomina-se “alma” à essência
imortal do ser humano e “espírito” à mesma alma desligada do
corpo por efeito da morte. “Espírito” é o ser que preexiste e
sobrevive à destruição do corpo, unido ao corpo, recebe o nome de
“alma”. É o mesmo ser, com a mesma constituição, em situações
diferentes. Nada mais.
Os espíritos não possuem desde sua criação a característica boa
ou má. Eles não são bons ou maus por natureza, são os próprios
espíritos que se melhoram e, melhorando-se, passam de uma ordem
inferior para outra superior.
Níveis evolutivos dos espíritos
Deus criou os espíritos simples e ignorantes, ou seja, sem saber.
Concedeu a cada um uma missão, com o fim de esclarecê-los e de os
fazer chegar progressivamente à perfeição e, pelo conhecimento da
verdade, aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram
a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe
é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam
submissos essas provas e chegam mais depressa à meta que lhes foi
assinada. Outros só a suportam murmurando e, pela falta em que desse
modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida
felicidade.”
Pode-se comparar os espíritos em sua origem com as crianças,
ignorantes e inexperientes, que só adquirem pouco a pouco os
conhecimentos de que carecem com o percorrerem as diferentes fases da
vida. A criança rebelde se conserva ignorante e imperfeita. Seu
aproveitamento depende da sua maior ou menor docilidade. Mas, a vida
do homem tem termo, ao passo que a dos Espíritos se prolonga ao
infinito.
Os espíritos são de diferentes ordens, conforme o grau de perfeição
que tenham alcançado. Essas ordens podem reduzir-se a três
principais, embora possamos adotar outros critérios de classificação
e, assim, o número de ordens poderia ser muito maior. Dá-se aqui o
que se dá com todos os sistemas de classificação científica, que
podem ser mais ou menos completos, mais ou menos racionais, mais ou
menos cômodos para a inteligência.
“Na primeira, colocar-se-ão os que atingiram a perfeição máxima:
os puros Espíritos. Formam a segunda os que chegaram ao meio da
escala: o desejo do bem é o que neles predomina. Pertencerão à
terceira os que ainda se acham na parte inferior da escala: os
Espíritos imperfeitos. A ignorância, o desejo do mal e todas as
paixões más que lhes retardam o progresso, eis o que os
caracteriza.”
Livre arbítrio, evolução e predestinação
Todos os espíritos se tornarão perfeitos. Mudam de ordem,
mas demoradamente, porquanto um pai justo e misericordioso não pode
banir seus filhos para sempre. Como poderíamos conceber que Deus,
tão grande, tão bom, tão justo, fosse pior do que nós mesmos? Não
há espíritos que se conservem sofrendo dores eternamente nas ordens
inferiores.
A rapidez com que os espíritos progridem para a perfeição depende
deles mesmos. Eles a alcançam mais ou menos rápido, conforme o
desejo que têm de alcançá-la e a submissão que testemunham à
vontade de Deus. Uma criança dócil não se instrui mais depressa do
que outra recalcitrante?
Os espíritos têm o livre-arbítrio, por isso, alguns seguiram o
caminho do bem e outros o do mal. Deus não os criou maus; criou-os
simples e ignorantes, isto é, tendo tanta aptidão para o bem quanta
para o mal. Os que são maus, assim se tornaram por vontade própria.
Seria uma ousadia e seria também pedir contas dos atos do Supremo
Senhor do Universo indagar porque Deus há permitido que os Espíritos
possam tomar o caminho do mal. Acaso supomos poder penetrar-lhe os
desígnios? Pode-se, todavia, dizer o seguinte: A sabedoria de Deus
está na liberdade de escolher que Ele deixa a cada um, porquanto,
assim, cada um tem o mérito de suas obras.
Os Espíritos que enveredaram pela senda do mal poderão chegar ao
mesmo grau de superioridade que os outros, mas as eternidades lhes
serão mais longas. Por estas palavras - as eternidades - se deve
entender a idéia que os Espíritos inferiores fazem da perpetuidade
de seus sofrimentos, cujo termo não lhes é dado ver, idéia que
revive todas as vezes que sucumbem numa prova.
A palavra eternidades aqui
colocada no plural revela o sentido relativo a ela atribuído. Se
desejasse expressar a ideia de absoluto a teria utilizado no
singular Eternidade.
Os seres a que chamamos anjos,
arcanjos, serafins, não formam uma categoria especial, de natureza
diferente da dos outros Espíritos; são Espíritos puros: os que se
acham no mais alto grau da escala e reúnem todas as perfeições.
A palavra anjo desperta geralmente a
ideia de perfeição moral. Entretanto, ela se aplica muitas vezes à
designação de todos os seres, bons e maus, que estão fora da
Humanidade. Diz-se: o anjo bom e o anjo mau; o anjo de luz e o anjo
das trevas. Neste caso, o termo é sinônimo de Espírito ou de
gênio. Tomamo-lo aqui na sua melhor acepção. (Allan Kardec – O
Livro dos Espíritos – item 128)
Os anjos percorreram todos os graus,
mas do seguinte modo: uns, aceitando sem murmurar suas missões,
chegaram depressa; outros, gastaram mais ou menos tempo para chegar à
perfeição.
A reencarnação
A alma que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea
deverá sofrer a prova de uma nova existência para acabar de
depurar-se. É bem verdade que essa nova existência realiza-se pela
sua transformação como espírito, mas é necessária a prova da
vida corporal. Assim, a alma passa por muitas existências corporais;
todos contamos muitas existências, donde se conclui que a alma,
depois de haver deixado um corpo, toma outro, isto é, reencarna em
novo corpo.
O fim objetivado com a reencarnação é expiação, melhoramento
progressivo da Humanidade. Com isto pode-se entender a justiça.
Não
há número determinado de reencarnações. A cada nova existência,
o Espírito dá um passo para diante na senda do progresso. Desde que
se ache limpo de todas as impurezas, não tem mais necessidade das
provas da vida corporal. Aquele que caminha depressa, a muitas provas
se forra. Todavia, as encarnações sucessivas são sempre muito
numerosas, porquanto o progresso é quase infinito.
Após
sua última encarnação, o espírito fica sendo espírito bem
aventurado, puro espírito.